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Mestrado acadêmico na USP

Neste poste, vou falar sobre mestrado acadêmico e “como funciona”, a “vida acadêmica” e “o que é necessário para ser tornar um mestre”. Em específico, vou falar de mestrado stricto sensu, baseado na vivência que estou tendo no mestrado na universidade pública no Brasil.  

 

Introdução 

O primeiro ponto que devo ressaltar na Introdução é que o Mestrado é uma Pós-graduação, assim como o Doutorado. Falo isso, porque muitas pessoas que vêm me perguntar sobre o Mestrado, acham que é um tipo de curso superior, mas não associam à Pós-graduação.  

Assim, como existe na graduação, à Pós-graduação possui dois sistemas de ensino, o lato sensu e o stricto sensu. Abaixo, vou explicar um pouco a diferença entre os dois:  

  •  No lato sensu (do latim “sentido amplo”), o(a) estudante precisa realizar as pesquisas e os estudos, para obter resultados aplicados à alguma área da Indústria. Para isso, utiliza-se das tecnologias/estudos mais maduros e difundidos na academia, sem necessariamente ter que melhorar os resultados destes estudos. É um curso mais focado em especialização, como MBA. Na maioria das Universidades e Faculdades, a forma de avaliação para concluir o curso de latu sensu é através de Monografia e Trabalho de Conclusão do Curso (TCC). 

 

  • Já no stricto sensu (do latim “sentido específico”), o(a) estudante (mestrando ou doutorando) deve realizar suas pesquisas e estudos para contribuir para evoluir o estado da arte que existe na literatura. Em outras palavras, o aluno deve contribuir (muito ou pouco) com uma novidade que melhora o existe de melhor no estudo naquele assunto ou área. Podendo ter uma contribuição com resultados aplicados na Indústria ou fundamentados com experimentos/resultados práticos. É um curso mais acadêmico é focado em pesquisas, normalmente Mestrado e Doutorado. A forma de avaliação para concluir o curso é a realização da defesa do projeto de pesquisa (dissertação), que foi desenvolvido durante todo o mestrado. 

 

Essas são as principais diferenças entre esses dois sistemas de ensino, assim o leitor vai poder avaliar se vai optar por fazer MBA/Especialização, ou fazer Mestrado ou Doutorado. Ainda existe a opção de mestrado profissional (na USP- Poli tem esse tipo de mestrado, mas é pago). 

 

Mestrado  

Os cursos de mestrados, na maioria das universidades estão atrelados a um programa de pós-graduação. Dentro de um programa, têm algumas linhas de pesquisa e áreas de aplicação. Por exemplo, eu faço mestrado na USP no Programa de Pós-graduação de Sistema de Informação (PPgSI) e dentro deste programa têm linhas de pesquisa na área de Inteligência Artificial (que estou fazendo), Engenharia de Software, Gestão de Tecnologia da Informação, Banco de Dados, Interação Humano-Computador, Processamento Gráfico e Reconhecimento de Padrões. 

Para cada linha pesquisa, o(a) estudante deve realizar os estudos com o objetivo de obter resultados que contribuem para a área escolhida. Mas, isso não implica em nada, caso queira mesclar os estudos com outra(s) área(s) para obter resultados e contribuições maiores. Por exemplo, pesquisas que melhorem a área de Inteligência Artificial e Engenharia de Software. 

Com a escolha da área de pesquisa, é interessante que o(a) futuro(a) mestrando conheça o(a) orientador(a) que vai orientá-lo(a), pois será o(a) professor(a) que mais terá contato em todo o mestrado! O orientador ou orientadora, deve ser a pessoa especialista ou com mais experiência na área de pesquisa escolhida pelo(a) estudante. Por isso, o papel do(a) orientador(a) é essencial para guiar o(a) aluno(a) no entendimento do estado da arte e na descoberta do que pode melhorar na área ou no tema da pesquisa.  

Acompanhado com a escolha do orientador, vem a escolha da instituição de ensino, que têm Faculdades/Universidades públicas e particulares.  

 

Instituição de ensino privada e pública 

Conforme já vimos, tem mestrado em instituição de ensino privada e pública, mas os principais pontos de diferença entre as instituições, são: i) tarefas/obrigações dos alunos; ii) exigência na pesquisa e estudo; e iii) processo de seleção dos mestrandos. 

Optando por uma instituição privada, o(a) futuro(a) estudante deve realizar uma entrevista na instituição para conhecer melhor as áreas de pesquisa e o perfil que a instituição espera do(a) aluno(a). Em alguns casos, aplica-se uma prova técnica e/ou de conhecimentos gerais, com pontuação de corte ou para bolsa de estudo, aderente a exigência da instituição de ensino. E caso a instituição de ensino é o(a) estudante entrem em acordo, o(a) estudante começa a sua vida de mestrando no semestre que tiver vaga.  

Caso a escolha seja uma instituição de ensino pública, o processo seletivo se torna mais complexo com a realização de provas com nota de corte à nível nacional. Na maioria das instituições públicas é necessário fazer o Poscomp, uma prova nacional que cai tudo, e um pouco mais, das matérias e dos conteúdos que tem na graduação (fiz Ciência da Computação na Uninove e caiu muita), uma definição zueira desta prova http://desciclopedia.org/wiki/Poscomp. Com resultado desta prova, a nota de corte que a USP exigia, quando entrei no mestrado, era igual ou superior à média nacional. Além desta prova, existe uma banca avaliadora que vai analisar o histórico da graduação, desde as pesquisas até as publicações feita pelo(a) aluno(a) na sua vida acadêmica. Ter feito um projeto de Iniciação Científica e/ou ter publicado artigos científicos, tem um peso alto na decisão desta banca. Por último, o(a) estudante deve fazer uma pequena dissertação explicando a intenção de pesquisa que talvez realize no mestrado (digo “talvez”, porque o(a) orientador(a) pode guia a pesquisa por outra vertente). Assim, com o resultado positivo, o(a) mestrando(a) se reuni com o(a) orientador(a) para definirem quais disciplinas vão ser cursadas no semestre seguinte. 

 

 Vida acadêmica (visão do mestrando na instituição de ensino público) 

A parti de agora, vou falar da vida acadêmico do aluno de mestrado, baseado no que passei e no que ainda estou passando, no mestrado da USP (instituição de ensino pública) como aluno regular. 

Passando pela fase de seleção e iniciando a vida acadêmica, a primeira tarefa do(a) aluno(a) é cursar as disciplinas para obter o conhecimento necessário para à realização da pesquisa.  

 

Disciplinas 

Nas instituições de ensino público, o(a) aluno(a) tem que fazer algumas disciplinas obrigatórias, que são consideradas fundamentais para um mestre acadêmico saber. Mas, o(a) aluno(a) pode escolher, de acordo com o(a) orientador(a) e com sua linha de pesquisa, algumas disciplinas optativas. Para cada disciplina concluída o(a) aluno(a) ganha uma quantidade de crédito, que é baseado no tempo de dedicação (dentro e fora da sala) que é esperado para realizar a disciplina, sendo relacionado diretamente com a complexidade da matéria. 

Após obter todos os créditos necessários para depositar o texto da qualificação, no caso da USP, totalizando 48 pontos de crédito, que no meu caso foram 3 disciplinas obrigatórias e 2 optativas. Após obter todos os créditos, não é mais necessário cursar as disciplinas, mas caso o aluno queira, não tem problema. Da mesma forma, caso o(a) aluno(a) queira cursar todas as disciplinas no primeiro semestre, ele pode, mas será extremamente complicado se dedicar bem em todas, mesmo se o(a) aluno(a) tenha dedicação exclusiva (40 horas semanais) para o mestrado. No meu caso, trabalhei no mercado de trabalho durante todo o meu mestrado e fiz uma estratégia (alinhada com a minha orientadora) de realizar uma disciplina obrigatória que é difícil (Análise de Algoritmo e Estrutura de Dados) no primeiro semestre, junto com duas outras fáceis (Preparação Pedagógica para Computação e Laboratório de Inovação em Sistemas de Informação). Já no segundo semestre, fiz uma disciplina extremamente difícil (Aprendizado de Máquina) e outra bem trabalhosa (Metodologia de Pesquisa Científica em Sistemas de Informação).  No site da EACH tem o catálogo de disciplinas.

As disciplinas devem ser concluídas em até a data limite da entrega do texto para o exame de qualificação (explicarei mais na frente), que pode variar entre os programas de pós-graduação, mas no caso do PPgSI é de 1 ano e 6 meses após à data da matrícula como aluno regular. Caso o(a) aluno(a), não obtenha a quantidade de créditos o suficiente até a data limite, ele(a) será desligado do programa de pós-graduação! (lembrando que é um mestrado de uma universidade pública) 

 

Aluno regular e aluno especial 

Conforme visto no tópico anterior, caso o(a) aluno(a) não consiga concluir as disciplinas em um período específico, ele(a) pode ser desligado do programa de pós-graduação. Esse aluno, é chamado de aluno regular, pois têm prazos de entregas, como a do projeto de pesquisa, qualificação, dissertação e outras. O aluno regular, têm essas obrigações e vínculos ao programa de pós-graduação a que se matriculou. 

Já o aluno especial é uma modalidade que o(a) aluno(a) não tem vínculo com o programa de pós-graduação, não possui um orientador(a) e a matrícula é por disciplina. Então, se ocorrer do aluno especial não concluir a disciplina, não será desligado do programa! Já se o o(a) aluno(a) que estiver estudando como aluno especial e passar na disciplina (obtendo os créditos), poderá aproveitar os mesmos créditos, caso o(a) estudante se matricule como aluno regular. Em algumas universidades, caso o(a) aluno(a) passe no processo seletivo de aluno especial, poderá ter que pagar uma taxa simbólica para ajudar na parte financeira das pesquisas realizadas no programa de pós-graduação (na USP, por exemplo teve essa cobrando simbolica no início da crise que o Brasil passou em 2016).  

Desta forma, é muito interessante conhecer o programa de pós-graduação e o corpo docente de professores, cursando inicialmente como aluno especial! Além de ser uma forma de entender a cobrança e a forma de ensino da universidade.  

 

Exame de Proficiência em Língua Estrangeira  

O exame de proficiência, é uma prova para comprovar domínio à língua estrangeira, com compreensão de texto, compreensão auditiva, expressão oral e expressão escrita. 

Uma das obrigações que o(a) estudante do mestrado deve realizar, é comprovar proficiência na língua estrangeira que o programa de pós-graduação ou o curso exige. Depende da instituição de ensino, mas à nível de mestrado, o(a) estudando deve ter pelo menos a proficiência na leitura (compreensão de texto). O nível da proficiência (percentual de acertos na prova), também pode ter variações entre as instituições de ensino. 

Esse exame pode ser exigido na inscrição/matrícula do aluno regular ou pode ser feita no decorrer do mestrado. Mas, novamente pode depender da instituição de ensino.  

No meu caso, a USP exigiu no mínimo a proficiência em inglês com compreensão de texto. Eu tive que entregar o exame com uma nota igual ou superior que 70% de acerto em até um mês antes da data limite para depositar o exame de qualificação.  

  

Exame de Qualificação

O aluno regular de mestrado, conforme vimos nos últimos tópicos, têm suas obrigações e prazos. A primeira de todas é concluir as disciplinas e obter os créditos necessários para submeter o texto do exame de qualificação. A segunda obrigação é apresentar uma explicação ao programa de pós-graduação sobre: O que vai ser pesquisadoO que motivou a pesquisa; Como vai melhorar o estado da arte; e Quais possíveis resultados serão obtidos com a pesquisa. O nome desta apresentação é exame de Qualificação. 

Por essa razão, o exame de qualificação se torna umas das etapas mais importantes do mestrado. O preparo para este exame começa no primeiro dia do(a) aluno(a). Até porque os estudos, as disciplinas cursadas e as pesquisas para entender a área, são feitas com o objetivo de alcançar e passar neste exame. 

No texto de qualificação, o(a) aluno(a) deve explicar a lacuna existente no estado da arte referente a área escolhida. Apresentar o problema que a lacuna pode causar e como vai soluciona-la! Esse exame não tem a obrigação de apresentar resultados conclusivos dos experimentos, mas se tiver contribui de forma positiva. Após concluir o texto de qualificação, é necessário apresenta-lo para professores especialistas e pesquisadores no tema abordado. Para continuar os estudos e as pesquisas o(a) aluno(a) deve obter parecer positivo da maioria dos professores da banca. Caso contrário, o(a) estudante deverá que revisar tudo novamente com base nos feedbacks que os professores deram. Se mesmo assim não tiver resultado positivo da maioria, o aluno é desligado do programa de pós-graduação. 

Caso o(a) estudante obtenha o parecer favorável da maioria ou por unanimidade, ele(a) passa nesse exame! Assim, vem a Dissertação do mestrado, o último exame do mestrado. 

 

Dissertação do Mestrado 

Na Dissertação do mestrado, o(a) estudante tem que fazer o prometido na Qualificação e mostrar com resultados concretos dos avanços obtidos. O texto da dissertação tem que ser mais completo e detalhado. Todos os temas abordados devem ter embasamento e fundamento. Por isso, normalmente as dissertações têm mais de 70 páginas.

Assim que a dissertação estiver pronta, é necessário imprimir uma copía com brochura e algumas cópias simples para entregar a banca avaliadora. Depois de aproximadamente de um período (vai depender da instituição) será feito a apresentação da dissertação para a banca de professores.

A banca pode ser composta pelos mesmos professores  da banca avaliadora da qualificação ou por outros professores. Mas, todos os professores tem que conhecer a área de pesquisa da dissertação. Assim como na qualificação, o(a) estudante deve obter o parecer positivo da maioria dos membros da banda, mas desta vez o que vai ser importante são os resultados e as contribuições alcançadas na pesquisa, junto com a qualidade da dissertação. 

Concluindo a etapa de Dissertação com êxito, o(a) estudante obtém o título de mestre!

Por mais que a banca aprovou o(a) estudante, quase sempre é necessário realizar melhorias na dissertação com base nos comentáruos dos professores da banca! Na USP, por exemplo, essas alterações devem ser feitas em até 2 meses para realizar os ajustes e entregar a última versão da dissertação para a universidade.

 

Publicações científicas 

O(A) estudante de mestrado, dependendo da instituição de ensino, vai ser exigido(a) realizar uma publicação científica da pesquisa realizada. Mas, aconselho realizar uma publicação, indiferente de exigência da universidade ou não! Porque, a pesquisa e os esforços realizados no mestrado devem ser para contribuir de alguma forma a sociedade científica de pesquisadores no mundo! Então, se o(a) estudante não pública nada, os resultados de um grande esforço serão apenas pelo diploma e título de mestre, e que não deve ser o objetivo principal do mestrado! 

 

Bolsa de estudos e bolsa de pesquisa 

Na maioria das universidades (privadas e públicas), disponibilizam algumas bolsas de estudo ou de pesquisa. Nas universidades privadas, os estudantes de mestrado podem ter um valor de bolsa vai variar entre 10% à 100% do valor da mensalidade do curso.  

Já nas universidades públicas, a bolsa de pesquisa fica na média de R$1.800,00 (http://www.fapesp.br/3162), sendo na maioria das vezes via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP – http://www.fapesp.br/bolsas/) e o(a) aluno(a) só tem direito à bolsa se não possuir vínculo empregatício. Então terá que ter dedicação integral ao mestrado na universidade pública.  

 

Links de referência 

A prova POSCOMP: Caso o(a) leitor(a) seja da área de Tecnologia e queira cursar um mestrado em alguma instituição de ensino pública, terá que fazer o Poscomp (http://www.sbc.org.br/educacao/poscomp). Abaixo tem as provas e gabaritos das edições dos anos anteriores. Lembrando que essa prova acontece apenas uma vez ao ano: 

http://www.sbc.org.br/documentos-da-sbc/category/153-provas-e-gabaritos-do-poscomp  

https://github.com/MackMendes/Provas-POSCOMP  

 Para os leitores que querem começar a saber o que é necessário para se inscreverem como Aluno especial 

 

E para os que querem Aluno regular 

Publicado emMestrado